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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Confisco bilionário envolve cigarros, bebidas e remédios

No combate à pirataria, as mercadorias apreendidas costumam informar mais sobre as tendências de falsificação e reprodução ilegal do que sobre o volume real de produtos irregulares em circulação. A prática ensina que basta intensificar a repressão para descobrir-se lotes cada vez maiores de artigos pirateados - como vem acontecendo nos últimos anos, aliás, com o aumento das operações policiais em portos, aeroportos, rodovias e centros comerciais das principais cidades.
Ao apertar o cerco contra os piratas, a Secretaria da Receita Federal bateu o recorde de apreensões no ano passado, ao retirar do mercado produtos avaliados em R$ 1,7 bilhão, um montante 34% acima do R$ 1,27 bilhão confiscado dos criminosos em 2010. Em 2004, quando foi criado o Conselho Nacional de Combate à Pirataria, as apreensões totalizaram R$ 452 milhões, quase um quarto do valor atual. Entre os itens mais pirateados, apenas CDs e DVDs registraram uma queda importante no total de unidades retidas, com um total de 3,77 milhões de cópias, contra as 5,79 milhões de 2010 e as 9,31 milhões de 2009, quando pararam de crescer. Ao que tudo indica, perderam espaço para os arquivos de músicas e filmes baixados - também ilegalmente - na web.
O topo da lista de mercadorias apreendidas foi ocupado por cigarros falsos ou contrabandeados, com 4,52 milhões de pacotes, confirmando uma escalada que vem desde 2008 (foram 1,71 milhão de pacotes naquele ano, 2,70 milhões em 2009 e 3,42 milhões em 2010). As bebidas, que caíram de 152 mil litros em 2009 para 106 mil litros em 2010, voltaram a subir, com 136 mil litros no ano passado. Os softwares deram um salto de 80%, passando de 1,72 milhão de unidades piratas confiscadas em 2010 para 3,15 milhões em 2011. O volume de equipamentos de informática retidos, que havia caído de 105 mil em 2009 para 98 mil em 2010, foi para 195 mil, exatamente o dobro. Os eletrônicos apreendidos chegaram a 285 mil unidades, a segunda queda seguida (foram 431 mil em 2009 e 393 mil em 2010), o que parece ser um reflexo do aumento das viagens internacionais dos brasileiros.
Já o aumento mais expressivo e assustador tem sido o de medicamentos. Segundo o último relatório Brasil Original, pelo Conselho Nacional de Combate à Pirataria, a apreensão de remédios falsos, contrabandeados, impróprios ou sem registro evoluiu de 496 mil unidades em 2008 para 3,2 milhões em 2009 e 18,5 milhões em 2010. O CNCP não divulgou o balanço relativo a 2011, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) adiantou que apenas os remédios falsos passaram de 67 mil unidades para 850 mil no último ano. "Os criminosos, que antes falsificavam basicamente remédios para tratamento de disfunção erétil e obesidade, passaram a produzir placebos para doenças crônicas, como câncer e aids", alerta Paulo Abrão, presidente do CNCP.
O aperto da repressão levou a Receita Federal, no fim do ano passado, a fazer a sua maior apreensão até hoje. Durante a Operação Barba Negra, desencadeada por agentes da Alfândega do Porto de Itajaí, em Santa Catarina, foram descobertos 13 contêineres de produtos ilegais vindos da China, somando 260 toneladas de artigos variados como relógios, camisas e tênis. A carga, com valor estimado em mais de R$ 50 milhões, aguarda o momento de ser destruída.
"A morosidade no processo de destruição de produtos ilegais é um entrave que precisamos resolver, pois a legislação atual exige que cada item seja periciado individualmente. Com isso, os armazéns da Receita Federal estão abarrotados", pondera Roberto Abdenur, presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO). Ele ressalta que há mais de um ano foi feito um projeto de lei para apressar esse trâmite, introduzindo a perícia por amostragem, mas que ainda não recebeu a devida atenção dos parlamentares. Em 2011, foram destruídos apenas 3,5 mil toneladas de mercadorias piratas, avaliadas em R$ 353,6 milhões - cerca de um quinto do valor total do volume apreendido ao longo do ano.

Fonte - VALOR ECONÔMICO

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