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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Empresas usam lógica dos 'sacoleiros' para vender roupas legalmente


Uma dos jeitos que brasileiros usam para comprar pela internet -que não oferece segurança para o consumidor- é encomendar roupas de blogueiras de moda que vivem em outros países.
Muitos desses sites nada mais são do que uma versão moderna dos antigos sacoleiros. Os donos das páginas despacham, pelo correio, itens de marcas acessíveis, como as redes Mango, Zara, Bershka e H&M.
Um dos procurados pela Folha -o lojinhaonline- deixa claro, já na seção "perguntas frequentes", como trata o tema: diz que não se responsabiliza por boletos entregues com as mercadorias referentes à cobrança de impostos e desembaraços.
"Todas as encomendas podem ser taxadas. No entanto, no envio pelo correio de Portugal a probabilidade de a encomenda ser taxada é menor." A responsável pelo site não aceitou dar entrevista.
Outro site que adota a estratégia é o blogusezara, que comercializa Zara. O repórter tentou comprar, por R$ 321, duas peças. Outros R$ 30 seriam cobrados pelo frete. A taxa de importação, não calculada pelo vendedor, ficaria por risco do comprador.
A criadora do blog, uma brasileira que se identifica como Lu e que não quis responder às perguntas da reportagem, diz que, embora reconheça que a Receita possa cobrar impostos, nunca aconteceu com nenhuma cliente.
Pelas regras, itens importados recolhem 60% do valor que ultrapassar US$ 50, incluído o frete, diz Victor Haikal, especialista em direito digital. O vendedor deve incluir o valor dos tributos na nota.
Para o advogado, os "sacoleiros digitais" usam brechas para fugir das normas. "Aproveitam do fato de saber que a fiscalização brasileira prioriza remédios, drogas e eletrônicos para enviar roupas. Por isso, a importação desses produtos tem crescido muito."
Segundo Haikal, a única forma segura de evitar que surjam futuras cobranças e processos é o cliente ter em mãos a nota fiscal da compra que comprove o recolhimento dos tributos.
Na outra mão, empresas formais tentam cooptar esse público e trazê-los para o comércio eletrônico que vende produtos comprados das marcas licenciadas no Brasil ou que exporta os itens cumprindo trâmites burocráticos.
O francês Pierre-Emmanuel Joffre, 38, é um desses empresários. Ele criou a Coquelux, site de compras que oferece roupas de grifes estrangeiras com descontos. "Compramos cerca de nove meses após o lançamento das coleções em seus países de origem. Isso nos garante descontos médios de 60%."
O empresário montou a Coquelux em 2008, após dez anos no grupo LVMH, dono da Louis Vuitton. No ano passado, recebeu um aporte do Intel Capital para investir em tecnologia e logística.
Outro site que surgiu com o objetivo de ganhar dinheiro ajudando brasileiros a comprar roupas e acessórios de luxo importados com descontos e sem ter de recorrer a sacoleiros foi o Dabee.
Criada em março do ano passado pelos brasileiros Guilherme Bastos (ex-eBay) e Hélcio Nobre (ex-PayPal) em parceria com o indiano Abhijit Das (ex-eBay), tem sede no Vale do Silício e escritórios em São Paulo e em Bangalore, na Índia. No total, são oferecidas mais de 25 marcas.
"Nossa sacada foi trabalhar com uma lógica parecida com a dos sacoleiros, só que de forma legal. Vamos atrás do produto e do melhor preço. A ideia é que o cliente consiga comprar qualquer item vendido em lojas virtuais americanas, sendo que atuamos como facilitadores do processo, da busca à importação", diz Tomás Penido, 38, responsável pela operação brasileira da companhia.
Além de roupas, o site traz também ofertas de eletrônicos, games e brinquedos, entre outros.

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